Do "Farmacêutico-Orquestra" ao Especialista: A Proposta para Segmentar o Varejo
Publicado em: 27 de outubro de 2025
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A imprensa especializada tem celebrado o novo posicionamento do varejo como um "Hub de Saúde" digital e integrado. O conceito é moderno e alinhado com o futuro da profissão: farmácias prestando serviços clínicos, testes rápidos e um atendimento focado na experiência do paciente.
A ideia é excelente. Mas ela esbarra em uma pergunta que não quer calar: quem vai executar tudo isso?
A resposta, infelizmente, é o mesmo profissional que hoje já luta contra condições desfavoráveis de trabalho: o "Farmacêutico-Orquestra".
1. A Realidade: O Modelo do "Farmacêutico-Orquestra"
O modelo atual do varejo, especialmente em grandes redes, se sustenta no "acúmulo de funções". Espera-se que um único profissional seja, ao mesmo tempo:
- O Responsável Técnico (pela dispensação e SNGPC);
- O Gestor de Equipe (supervisionando auxiliares);
- O Profissional de Serviços (aplicando injetáveis, vacinas, furando lóbulo);
- O Clínico (realizando testes rápidos e acompanhamento);
- E, não raro, o Gerente Comercial (batendo metas) e o Operador de Caixa.
Este modelo é barato para o empregador, mas é a causa raiz da desvalorização, do adoecimento (burnout) e da baixa qualidade na assistência. Não é possível ser um "Hub de Saúde" de excelência com um profissional sobrecarregado.
2. A Ferramenta Legal: O que o CRF-PR Ignora
Como defendemos em nossa campanha, o CRF-PR tem o dever de proteger a sociedade garantindo o exercício ético da profissão. E a ferramenta legal para acabar com o "Farmacêutico-Orquestra" já existe.
A Resolução SESA Nº 590/2014, a principal norma sanitária do Paraná, é clara em seu Artigo 17:
"...As atribuições e responsabilidades individuais devem estar formalmente descritas... não podendo existir sobreposição de atribuições e responsabilidades na aplicação das Boas Práticas."
O "acúmulo de funções" é a definição exata de "sobreposição de atribuições". Quando uma empresa força o farmacêutico a ser clínico, gestor e caixa ao mesmo tempo, ela está violando diretamente a norma sanitária estadual.
3. A Proposta: Seguir o "Caminho da Oncologia"
Na Farmácia Oncológica (como vimos na matéria O Caminho da Oncologia: O Futuro que o Varejo Merece), a valorização veio com a especialização. Ninguém espera que o farmacêutico que manipula o antineoplásico seja o mesmo que faz o atendimento clínico no leito e o mesmo que faz a gestão de compras.
O varejo precisa seguir o mesmo caminho. Defendemos que o CRF-PR mude seu foco:
- Parar de fiscalizar apenas a "Presença": O modelo atual foca em punir a "ausência" (o que gera multas), mas ignora as condições de trabalho que causam essa ausência.
- Começar a fiscalizar a "Sobreposição": O CRF deve usar o Art. 17 da SESA 590 como ferramenta. Ao constatar o "acúmulo de funções", o Conselho não deve punir o farmacêutico (CPF), mas sim autuar o estabelecimento (CNPJ) por impor condições que violam a norma sanitária e o Código de Ética.
Ao fazer isso, o Conselho força o mercado a se profissionalizar. Ele obriga as redes que querem ser "Hubs de Saúde" a contratar profissionais distintos para funções distintas.
Nossa Meta: O Farmacêutico Especialista
A implementação dessa fiscalização resultará na segmentação que o varejo merece:
- Teremos o Farmacêutico Clínico (RT pelo consultório e serviços);
- Teremos o Farmacêutico Administrativo/Técnico (RT pela dispensação, gestão e SNGPC).
Isso cria um plano de carreira, abre novas vagas e permite ao profissional escolher sua vocação. O "Hub de Saúde" só será realidade quando o CRF-PR parar de permitir o "Farmacêutico-Orquestra".
QUEREMOS SABER SUA OPINIÃO:
Você se identifica com o "Farmacêutico-Orquestra"? Qual é a sua realidade hoje no balcão?
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